Fugindo do tema principal deste blog e abordando um assunto muito importante.
Algo que senti muito quando me tornei mãe foi o novo sentido da expressão "o gramado do vizinho..."
Na era digital do mundo das mães, o gramado da vizinha não é mais verde; ela é totalmente inaceitável e (pasmem!) não é orgâncio.
Vou compartilhar um pouco da minha verdade e da minha história para expor o pensamento por trás deste blog e mudar alguns conceitos anteriores:
A minha licença maternidade foi um pesadelo (pausa dramática para crítica e preconceito maternal). Por mais que eu curtisse ficar em casa com o bebê, passeado, cuidando das coisinhas dela, sentia muita falta de conversar com adultos, vestir a roupa social, de ter a pressão de administrar um negócio, de ser chefe. Eu sei que muitas vão me julgar e pensar
-"Noooooossa, que louca!!!!" -"Eu A-M-O ficar com o meu bebê!" -"A licença tinha que ser de um ano!"-- (o coro agora) "Que mãe péssima..."
Francamente, já superei a necessidade de aceitação alheia, mas se puder me acompanhar até o final do texto sem pre-julgamentos, talvez compreenderá o objetivo desta publicação.
A minha depressão pós-parto foi tardia; começou quando a minha filha completou 3 meses. Depois descobri que alguma forma de depressão atingirá até 80% de novas mães, mas na época, eu acreditava que a maternidade seria um lindo mar de flores perfeitas. Eu nunca tinha tido diagnóstico de depressão então aceitar o quadro foi um passo dificil para mim e mais dificil ainda para o meu marido que não reconhecia mais a pessoa quem eu havia me tornado.
A recuperação foi longa e árdua. Devido ao quadro, suspendi a amamentação após 5 meses (mais julgamentos) entrei com fórmula (absurdo!) e comecei a dar frutinhas e sucos. Comecei este blog naquela época para ter um foco, um projeto, algo que me ajudasse a sair daquele mundo escuro e desfrutar o momento.
Voltando para antes de engravidar: eu sempre trabalhei. Sou de uma geração onde trabalhar não é opção, é obrigação. Fui criada para ter o meu próprio dinheiro sem depender dos outros.
Quando entrei na adolescência, para pode ir ao cinema, lanchar e comprar coisinhas no shopping, eu cuidava dos filhos das amigas da minha mãe, dava aulinhas de reforço de inglês para os meus amigos do colégio ou fazia bico organizando papelada e arquivo morto na empresa do meu tio.
Assim que completei 18 anos, aluguei o meu próprio apartamento e pagava alguel com o dinheiro que ganahava dando aula em cursos de inglês. Com 22 anos, abri o meu próprio curso de inglês e me tornei empresária. Trabalhar e não só ganhar dinheiro, mas ter a capacidade de criar, de produzir alguma coisa era um motivo de muito orgulho para mim. Ser dona-de-casa, era viver o meu pior pesadelo; era me tornar tudo aquilo que eu [imaturamente] rejeitava.
Em contrapartida, a minha amiga Ana* também é empresária e também trabalhou a vida inteira, mas a diferença entre nós duas é que ela nunca pôde amamentar a filha dela, por mais que tentásse. Após 3 semanas de uma dura batalha, a pediatra interveio e passou a suplementar a alimentação do bebê (agora vão julgar a pediatra).O leite simplesmente não descia. Ela chorava copiosamente por achar que seria menos mãe se não amamentásse a filha. O pior é que muitas pessoas realmente pensam isso e esta crítica está realmente entranhado nas mães da era digital onde a vítima predileta dos fóruns é sempre "aquela que não amamentou". Presa fácil. Covardia.
Para piorar, acontece que a empresa da Ana recebeu um aporte (investimento) no nono mês de gestação dela, a obrigando a voltar para o trabalho apenas 3 semanas após o parto. Era um sofrimento interminável, com ela sonhando a cada minuto em estar em casa com a filha recém nascida. O drama acabou sendo remediado com a instalação de um berçário dentro da empresa para que ela pudesse ter a filha por perto. Uma idéia genial, mas fora da realidade de muitas mães por ai.
Lembro de uma vez que ao levar a minha filha para brincar no berçario improvisado aproveitei para conversar sobre a minha depressão. A reação da Ana foi de espanto - "Nossa! O meu sofrimento é justamente o contrário! Daria qualquer coisa para ficar em casa e curtir integralmente o bebê, mas existem muitas vidas e famílias dependendo de mim; não posso deixá-los na mão."
Uma outra amiga sofreu pela escolha de amamentar a filha até o segundo ano de vida. Outra conhecida foi duramente criticada por deixar a filha em casa até os 2 anos enquanto outras sofrem por colocarem o bebê no berçário e desmamar com 4 meses por precisar voltar ao trabalho. Não dá pra acertar. Sempre vai haver algo que poderia ou deveria deixar de fazer ou fazer diferente. Esta semana houve uma crítica bastante divulgada à amamentação em geral, chamando-a de "coisa de pobre fazendo pobrice". Até isso!
Para mim, durante a minha fase de adaptação à maternidade o mais difícil foi tentar compartilhar com outras mães o que eu estava sentido. Parece piada...como não encontrar companherismo e empatia entre mães? Infelizmente, o mundo de novas mães é muito, muito cruel e todas nós achamos que nossos meios, nossos métodos e nossas regras são as únicas que prestam. Não sou isenta de julgamentos e pré-conceitos e com certeza muitas já se ofenderam por algum comentário ou publicação minha. Não é a primeira vez que abordo este assunto, mas nos últimos meses tenho recebido muitas mensagens de mães que se sentem totalmente isoladas e ináptas, e estão buscando apenas apoio ou conselho de quem tem mais experiência e ao entrarem em blogs e fóruns de mães só encontram discórdia, discussões e intolerância. De mamadeiras e chupetas a babás (essa é forte) e danoninho (o sétimo pecado capital dos fóruns), as brigas e discussões são intermináveis.
Todas nós já caimos na armadilha. Uma amiga nos convida para um grupo super fofo de mulheres assim como nós que está ingressando no mundo das mães. Começa com perguntas sobre cólicas e berços quando surge alguem que na inocência pergunta: "Mamães, vocês compraram jogo de berço?" (mundo entra em colapso). Não há mais tema seguro. Qualquer assunto, por mais banal que seja se tornou controversial. A batalha já começa na gestação, com críticas a vitaminas, os perigos de ultrasonografias e nada te salva da discussão sobre o tipo de parto. Cesária x Parto normal já teve mais rodada do que o UFC. Preguiça. Muita preguiça até de começar a tocar no assunto.
Mamães, faço agora um apelo: da próxima vez que for opinar sobre o assunto, lembre-se que todas nós estamos lutando as nossas batalhas; temos bagagem diferente, cultura diferente, mas todas queremos o mesmo: o melhor para os nossos filhos. Não julgue com tanta facilidade. Tenha compaixão por este momento tão delicado e sensível quando o nosso corpo ainda sofre com os hormônios gestacionais e a falta de sono; quando perdemos a noção de quem somos por não nos reconhecermos mais no espelho; quando morre a moça e nasce a mãe.
Me tornar mãe me ensinou que eu sabia muito pouco sobre a vida; me mostrou que fui bem tolinha, arrogante e extremamente besta. Aprendi a compreender que aquela pessoa à minha frente quer o mesmo que eu, mesmo escolhendo caminhos e meios diferentes.
Hoje eu tento ser mais tolerante, mas acima disso, tento não impor a minha verdade em cima dos outros. A vida é melhor assim.
PS: Se discordar deste texto, compreendo e aceito a sua discordia. Você poderá apresentar a sua verdade em seu próprio blog ou numa mensagem privada, mas não permito discórdia e julgamento nos comentários do meu blog.